Temos que falar sobre isso: obesidade na infância e na adolescência

Durante muitos anos, a imagem de um bebê rechonchudo causava ternura em quem a visse. Na cultura ocidental, esse peso extra era muitas vezes associado a que a criança estava saudável e os pais faziam um bom trabalho na nutrição de seus filhos. Só que não é bem assim. Diante do aumento cada vez mais crescente de obesos no Brasil e no mundo, é importante chamar atenção para os efeitos de médio e longo prazos da obesidade na infância e na adolescência.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a obesidade é hoje um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Projeta-se que em 2025 haverá 2,3 bilhões de adultos com sobrepeso; e pelo menos 700 milhões de obesos. Entre as crianças, sobrepeso e obesidade devem chegar a 75 milhões, caso nada seja feito.

Pra além da questão estética, o excesso de peso pode provocar o surgimento de vários problemas de saúde como diabetes, problemas cardíacos e a má formação do esqueleto. E um sinal de alerta para a necessidade de prevenção imediata: oito em cada dez adolescentes continuam obesos na fase adulta.

Hoje, após quase 20 anos que realizo cirurgia bariátrica, observo um aumento crescente de pais levando filhos menores de idade para avaliação e discussão sobre cirurgia da obesidade. Vamos lembrar que a cirurgia deve ser a última opção, não é indicada para crianças (só em casos muito excepcionais).

Apesar de ser cirurgião bariátrico, sou o maior apoiador da prevenção, talvez por saber exatamente das graves consequências dessa doença. Já operei em diversos países do mundo e no Brasil desenvolvo ampla pesquisa sobre o tema. Visito escolas, creches e empresas tentando entender onde estamos errando. Uma avaliação inicial, demonstra que a maior parte desses locais, faz ampla oferta de alimentos saudáveis e campanhas de orientação alimentar. O relato das crianças, coloca o hábito alimentar da casa, bem como o tipo de oferta alimentar feita pelos familiares, como o grande “vilão” dessa doença.

As crianças em geral ganham peso com facilidade por conta de hábitos alimentares errados, inclinação genética, estilo de vida sedentário, distúrbios psicológicos, problemas na convivência familiar, para citar alguns exemplos. Nem sempre a ingestão de grande quantidade de comida é a causa, pois em geral as crianças obesas usam alimentos de alto valor calórico, que não precisa ser em grande quantidade para causar o aumento de peso. As crianças costumam imitar os pais em tudo que fazem. Assim sendo, se os responsáveis têm hábitos alimentares errados, acabam induzindo os filhos a se comerem do mesmo jeito.

A vida sedentária, facilitada pelos avanços tecnológicos, também leva as crianças a não se esforçar fisicamente. Fatores como violência urbana, por exemplo, também tem levado pais e responsáveis a manter as crianças em casa, com pouca atividade como jogar bola, brincar de pique, subir em árvore. Todos esses são fatores preocupantes para o desenvolvimento da obesidade.

Temos notado que a ansiedade tem sido uma causa importante de sobrepeso em crianças e adolescentes. Psiquiatras afirmam que por trás de um obeso sempre poderá existir um problema psicológico, agravando-se devido a nossa cultura onde a sociedade exclui os “fora do padrão”. Por isso, se oriento que o adulto faça o tratamento contra a obesidade de forma multidisciplinar – com equipes contendo médicos, nutricionistas e psicólogos – na criança o acompanhamento desta forma é ainda mais importante.

Fatores hormonais também podem estar correlacionados à obesidade. Alguns deles são cada vez mais comuns na infância como excesso de insulina; deficiência do hormônio de crescimento; excesso de hidrocortizona, os estrógenos. Além deles, fatores genéticos também influenciam e precisam ser pesquisados.

O momento de mudança é agora. Hoje! Nos últimos 30 anos, o contingente de obesos aumentou cinco vezes no país.

Para prevenir que a situação se torne o caos de saúde pública que se anuncia, é fundamental que pais e responsáveis garantam a seus filhos uma alimentação balanceada, rica em frutas, legumes e verduras; respeitem os horários das refeições, evitando as beliscadas nos intervalos; evitem alimentos gordurosos, como doces, frituras e refrigerantes; incentivem a prática de atividades físicas e a ingestão de pelo menos dois litros por dia.

A obesidade é um problema grave e deve ser encarado com cuidado. Se você conhece alguém nessa situação, oriente a procurar por um serviço confiável.

Escrito pelo Dr. Cid Pitombo

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