Pneumonia vista apenas na TC tem relevância clínica?

Oficialmente, a diretriz brasileira de pneumonia adquirida na comunidade (PAC) da Sociedade Brasileira de Pneumologia define PAC como:

“Pneumonias são doenças inflamatórias agudas de causa infecciosa que acometem os espaços aéreos e são causadas por vírus, bactérias ou fungos. A PAC se refere à doença adquirida fora do ambiente hospitalar ou de unidades especiais de atenção à saúde ou, ainda, que se manifesta em até 48 h da admissão à unidade assistencial”

No mesmo documento, o diagnóstico de pneumonia é feito quando:

“O diagnóstico baseia-se na presença de sintomas de doença aguda do trato respiratório inferior (tosse e um ou mais dos seguintes sintomas: expectoração, falta de ar e dor torácica), achados focais no exame físico do tórax e manifestações sistêmicas (confusão, cefaleia, sudorese, calafrios, mialgias e temperatura superior a 37,8°C), os quais são corroborados pela presença de uma opacidade pulmonar nova detectada por radiografia do tórax”

Portanto, em teoria, é necessária comprovação de uma imagem ou espécime clínico (ex: cultura escarro) para que se possa fechar o diagnóstico de pneumonia. Na vida real, muitas decisões são baseadas no cenário: um paciente com quadro clínico típico de febre alta, tosse produtiva e desconforto respiratório provavelmente receberá antibioticoterapia com cobertura para pneumonia mesmo que não haja imagem na radiografia. Só que com o advento da tomografia computadorizada, tem sido mais frequente encontrarmos pacientes com clínica de pneumonia, radiografia normal mas condensação na TC. Este grupo foi objeto de um estudo dos EUA sobre pneumonia adquirida na comunidade e chamado de “TC-pneumonia”. E nós resumimos os achados principais para você.

Precisamos radiografar pneumonias?

O estudo foi realizado em cinco hospitais dos EUA, na região de Chicago e Neshville. De um total de 2.251 pacientes, apenas 3% apresentaram clínica de pneumonia, radiografia de tórax normal e condensação na TC. Ou seja, na teoria esse cenário é menos comum. O grupo “TC-pneumonia” foi comparado com pacientes com PAC e imagem no Rx.

Nas características gerais, a obesidade foi mais comum nos pacientes TC-pneumonia, talvez pela dificuldade de visualização e interpretação da radiografia de tórax em obesos. O patógeno mais comum foi o pneumococo em ambos os grupos, mas a prevalência de rinovírus foi maior no grupo TC-pneumonia. Desfecho clínico, prognóstico e resposta à antibioticoterapia foram semelhantes entre os grupos, dando suporte à ideia que o tratamento pode ser o mesmo, havendo ou não imagem no Rx.

O estudo mostrou ainda outro dado interessante: dos mais de dois mil pacientes com clínica e radiografia alterada, 1% tiveram TC normal, isto é, a radiografia foi um “falso positivo”. As causas mais comuns de diagnóstico equivocado no Rx foram (ordem decrescente): adenomegalia, congestão pulmonar, atelectasia, fibrose pulmonar, enfisema, infarto pulmonar e sequelas de cirurgias prévias.

 

Escrito pelo cardiologista Ronaldo Gismondi

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