Crianças e Adolescentes na Era Digital: Orientações da SBP para Pais, Educadores e Pediatras
A era digital tem seus benefícios e malefícios. Em se tratando de crianças, devemos estar atentos aos prejuízos que a imersão tecnológica – cada vez mais precoce – pode trazer ao desenvolvimento da infância e da adolescência.
Estudos comprovam que a tecnologia influencia comportamentos e modifica hábitos desde os primeiros anos de idade, podendo causar danos irreversíveis à saúde. O consumo excessivo de jogos online, redes sociais ou conteúdos de internet causa problemas de socialização e dificuldades escolares.
Também é comum que se desenvolvam problemas mentais, aumento da ansiedade, transtornos de sono e alimentação, sedentarismo, problemas visuais e auditivos, problemas posturais e lesões de esforço repetitivo (LER).
Comportamentos violentos e cyberbullying também são estimulados no mundo digital. Inclusive, o estudo relata práticas autodepreciativas – como automutilação e até mesmo suicídio. Há também os problemas que envolvem a sexualidade, como maior exposição à pornografia e vulnerabilidade à pedofilia.
Por todos esses riscos, pediatras e educadores têm papel fundamental na orientação de crianças e adolescentes e de suas famílias. A Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou o Manual de Orientação da Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital, destinado a pediatras, educadores, pais e aos próprios jovens.
Veja as recomendações abaixo, retiradas do Manual da SBP:
▶ Para Pediatras:
- Avaliar/aconselhar/orientar sobre o tempo de uso diário das tecnologias e celulares, videogames e computadores durante a entrevista ou consulta e correlacionar com os sintomas apresentados por crianças e adolescentes.
- Avaliar hábitos de sono, alimentação, exercícios, comportamentos e condutas com os colegas na escola, além do rendimento escolar e da dinâmica familiar. Prescrever Natureza e atividades ao ar livre, sempre que necessário.
- Programar com as crianças/adolescentes e suas famílias, um plano de “dieta midiática” de acordo com as idades e desenvolvimento cognitivo e maturidade, sobre o que seria mais conveniente em termos de tempo de exposição aos conteúdos como diversão ou distração, enfatizando os cuidados necessários para o acesso aos links dos filmes, vídeos, jogos e não somente limitar à quantidade de horas, assim, balanceando a qualidade X quantidade com as outras tarefas diárias.
- Incluir nos protocolos de atendimento as rotinas que permitam tanto a prevenção como o diagnóstico e tratamento dos danos à saúde física, decorrentes do uso abusivo das tecnologias digitais, tais como: obesidade, distúrbios do sono, lesões articulares, problemas posturais, alterações da visão, perda auditiva, transtornos comportamentais e mentais dentre outros já demonstrados por diversos estudos da literatura científica.
- Considerar e avaliar com mais atenção crianças e adolescentes que apresentem comportamentos agressivos, dissociativos entre o mundo real e o virtual, dependentes da tecnologia-Internet-videogames, que apresentem transtornos de sono, alimentação, higiene, uso de drogas ou queda do rendimento escolar ou pratiquem/apresentam sinais de violência/bullying/cyberbullying, sinais corporais de automutilação (self-cutting) ou quando relatam “desafios” online com colegas da escola. Encaminhar para psicoterapia cognitivo-comportamental e terapias adjuntas quando necessário e precocemente, inclusive terapia de família.
- Atualizar seus conhecimentos em relação às evidências científicas sobre as influências da mídia online no desenvolvimento da saúde mental e psicossocial das crianças e adolescentes, para entender melhor as possibilidades diagnósticas dos transtornos frequentes nesta faixa etária e prescrever as principais medidas de prevenção, que também são tópicos de saúde pública e coletiva, devido à dimensão e velocidade da disseminação das informações via Internet.
- Dialogar com a família durante a consulta sobre mudanças de hábitos e estilos de vida que possam ser prejudiciais, como modelos referenciais para as crianças e adolescentes, tipo a prevenção de discórdias e cenas de violência ou terror em filmes, vídeos, e durante o uso de telas de computadores ou celulares. Os pais são modelos para os filhos e as rotinas da família irão se perpetuar na geração seguinte.
- Colaborar com a mídia para evitar a exposição de crianças e adolescentes aos conteúdos prejudiciais, distorcidos, discriminatórios ou excludentes, em qualquer matéria ou pauta de entrevista, onde o pediatra seja o profissional convidado. Sempre alertar/esclarecer sobre os sinais e sintomas de transtornos precoces durante a infância e adolescência, assim também em relação ao mundo digital e como procurar ajuda no sistema de saúde ou consultórios/ambulatórios de pediatria, em sua cidade.
- Participar de palestras nas escolas ou campanhas de prevenção na sua comunidade enfatizando os direitos de todas as crianças e adolescentes de viverem com mais saúde e mais segurança, tanto online como offline, e, como sempre, a prevenção de riscos é o melhor investimento para a proteção social da geração digital.
▶ Para Educadores e Escolas
- Informar de modo adequado e detalhado os educadores e professores sobre o uso ético, saudável e com segurança das tecnologias e aplicativos durante o tempo de convívio com as crianças e adolescentes nas escolas e cursos.
- Realizar atividades com os alunos e palestras de prevenção e proteção de todos, estabelecendo regras e limites no contato diário entre professores-alunos, alunos-alunos e evitando mensagens e encontros com desconhecidos com o uso das tecnologias.
- Debater e conscientizar sobre o dever de respeito aos direitos autorais das fontes pesquisadas nas tarefas escolares, sem adotar a prática do “copia-e-cola”, prática essa conhecida como “pirataria” ou “baixar” materiais da Internet sem a devida citação da fonte.
- Produzir com os próprios alunos materiais educativos e proativos sobre o uso adequado das tecnologias digitais em atividades culturais como teatro e artes ou ações de protagonismo juvenil e que sejam compartilhados com as redes dos pais ou com crianças de escolas vizinhas ou feiras nas comunidades.
- Temas difíceis e complexos como sexualidade e exploração sexual online, comportamentos de violência, cyberbullying, uso de drogas, “brincadeiras e desafios perigosos” devem fazer parte do currículo escolar e da programação da escola em atividades ou palestras de promoção de saúde e prevenção de riscos. Se necessário, convidar pediatras especialistas em adolescência, ou consultar a SBP para o profissional mais recomendado em sua cidade.
- Informar e procurar sempre se atualizar sobre as novas tecnologias disponíveis e como aproveitar os materiais disponíveis online para estimular a criatividade e o trabalho em equipe e em redes, entre todos. Faça da tecnologia uma ferramenta de ensino-aprendizagem que fortaleça o vínculo de respeito e de diálogo com seu aluno sobre cidadania digital.
- Ficar atento aos sinais de riscos pessoais, sociais ou digitais que seu aluno possa apresentar. Convoque os pais para uma conversa e troca de informações: sempre é melhor prevenir do que remediar!
- Atualizar materiais, programas e aplicativos educativos, e sempre conversar com os alunos sobre os conteúdos que estão acessando ou servindo para pesquisas ou produção de conhecimentos, e assim aproveitar dos benefícios das tecnologias e, ao mesmo tempo, assegurando a máxima proteção possível para todos, na escola, que é um espelho ou microcosmos da sociedade “real”.
- Estabelecer redes intersetoriais com os pais e com as referências profissionais de especialistas para a proteção de sua escola e deixar sempre em local visível como denunciar casos de violência, sexting ou cyberbullying ou qualquer outro problema, no disque-denúncia (tel. 100) ou acessando a rede SAFERNET (www.new.safernet.org.br).
- Redigir diretrizes de comportamento e relacionamento social com ética e segurança para todos os professores e funcionários das escolas que participam de redes sociais, como Facebook, Snapchat, Instagram e outras, sobretudo na interação com alunos, crianças/ adolescentes e familiares ou em fotos que possam expor ou constranger em público. Funcionam como códigos de conduta entre todos que convivem com a rotina escolar e o “mundo externo e real”.
▶ Para Pais
- Conversar com seus filhos sobre a Internet e também sobre as redes sociais e quais os sites que são mais apropriados, de acordo com o desenvolvimento e a maturidade de cada um, compartilhando o uso positivo das tecnologias digitais com seus filhos nas tarefas de rotina ou lazer, mas sem invadir os espaços e as mensagens de cada um. Fazer uma lista de sites recomendados, conversar sobre os perigos e riscos da Internet ou encontros com pessoas desconhecidas em redes sociais ou fora delas.
- Verificar a classificação indicativa para games, filmes e vídeos e conteúdos recomendados de acordo com a idade e compreensão de seus filhos, em normas técnicas e guias práticos para todas as famílias e também acessíveis online.
- Estabelecer regras e limites bem claros e “concordantes” entre todos sobre o tempo de duração em jogos por dia ou no final de semana e sobre a entrada e permanência em salas de bate-papo ou em redes sociais ou durante os jogos de videogames online. Não fornecer cartões de crédito de uso pessoal.
- Discutir francamente qualquer mensagem ofensiva, discriminatória, esquisita, ameaçadora ou amedrontadora, desagradável, obscena, humilhante, confusa, inapropriada ou que contenha imagens ou palavras pornográficas ou violentas, típicas das redes de intolerância ou ódio e como fazer para bloqueá-la.
- Recomendar aos seus filhos que jamais forneçam a senha virtual a quem quer que seja, nem aceitem brindes, prêmios ou presentes oferecidos pela Internet, assim como também jamais devem ceder a qualquer tipo de chantagem, ameaça ou pressão de colegas ou de qualquer pessoa online.
- Evitar postar fotos de seus filhos para pessoas desconhecidas ou público em geral. Aprenda sobre os meios de configuração de privacidade e selecione como enviar fotos, vídeos ou mensagens. Existem vários sites e aplicativos que ensinam sobre segurança online.
Para saber mais sobre o estudo publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, acesse o material na íntegra aqui.