10 casos mais comuns em emergências
Todo médico sabe que nos plantões das emergências podem aparecer queixas de todos os tipos: desde a doença mais grave e misteriosa à ínfima unha encravada. Quem trabalha em pronto-socorro já está acostumando com o ambiente dinâmico e cheio de novidades exóticas (pra não se dizer bizarras). Mas, mesmo com suas particularidades e seus inusitados, o plantão de uma emergência sempre tem aqueles casos que o Clínico sabe de cor. Confira abaixo a lista dos 10 casos mais comuns em pronto-socorro.
1. Dor de dente
Causas comuns: Cáries, infecção, gengivite, exposição de raiz nervosa, ou fratura de dente.
Tratamento: Pode-se realizar bloqueio nervoso para aliviar a dor se houver exposição de raiz; drenagem de abscesso e prescrição de antibióticos em caso de infecção. No entanto, essas são apenas medidas emergenciais até a realização de uma consulta odontológica.
Recomendações de alta: Prescrição de antibióticos e/ou analgésicos (Ex: Dipirona, Paracetamol), e encaminhamento para consulta odontológica.
2. Feridas cortantes
Causas comuns: Objetos pontiagudos como facas ou vidro.
Tratamento: Compressão direta para interromper o sangramento. Lavar com soro fisiológico em alta pressão para reduzir o risco de infecção. Pode-se solicitar uma radiografia se o objeto estiver fixado na ferida ou houver suspeita de fratura óssea. A depender do tamanho, profundidade e localização, deve-se realizar o fechamento da ferida, ou com grampos (tipicamente em feridas do couro cabeludo), sutura para cortes profundos, ou cola ou fita adesiva para cortes superficiais, especialmente na face.
Recomendações de alta: Cortes profundos que envolveram muitos detritos devem ser reavaliados dentro de 24h para afastar infecção. Caso contrário, recomenda-se a remoção da sutura em posto de saúde entre 5 a 14 dias após o trauma (suturas faciais não devem ultrapassar 7 dias). Se houverem sinais de infecção – pus, secreção, rubor, edema – recomendar que se retorne ao pronto-socorro.
3. Entorses
Causas comuns: Estiramento ou ruptura de ligamento. Qualquer articulação (joelho, quadril, punho, interfalângicas, por exemplo) podem sofrer entorse, mas a mais comum é a do tornozelo.
Tratamento: Analgésicos como Ibuprofeno e Dipirona podem aliviar a dor e inflamação. Se o paciente estiver com dor intensa, pode-se solicitar uma radiografia do membro para afastar fraturas. Normalmente, não se utiliza imobilização com tala, pois o edema pode gerar compressão intensa.
Recomendações de alta: Seguir o “RICE”: Repouso do membro; Ice (gelo) na lesão (20 minutos); Compressão da área (envolver numa atadura); e Elevação do membro, para reduzir o edema. A dor e o edema devem melhorar em poucos dias. Na ausência de melhora, deve-se orientar o retorno à unidade.
4. Dor lombar
Causas comuns: Desgaste do dia a dia, levantamento de peso da forma errada, uso excessivo, movimentos repetitivos envolvendo a musculatura lombar, e até mesmo tensão. A depender da idade, pode se tratar de sintoma de artrite, cálculos renais, ou alguma lesão estrutural como herniação discal.
Tratamento: Dor lombar pode ser aliviada com anti-inflamatórios. Opióides podem ser prescritos se a dor for debilitante. Uma investigação diagnóstica mais profunda usando exames de imagem, como ressonância magnética ou radiografia, pode ser feita se a dor for crônica.
Recomendações de alta: Compressas quentes ou frias em casa podem aliviar a inflamação, edema, dor e tensão muscular. Se a dor não ceder após alguns dias, deve se orientar o retorno.
5. Infecções do trato urinário
Causas comuns: Bactérias no trato urinário, rins, ureteres, bexiga ou uretra.
Tratamento: Um rápido sumário de urina com urocultura pode indicar a presença de bactéria, e a antibioticoterapia deve começar a combater a infecção dentro de dois dias (infecções mais graves podem demorar mais). Pode também se prescrever medicação para aliviar a dor no trato urinário.
Recomendações de alta: Acompanhamento ambulatorial na atenção primária dentro de um ou dois dias se houver envolvimento renal; e em uma semana se apenas infecções da bexiga, menos graves. Se persistirem a dor e febre, ou os sintomas piorarem após dois dias de antibioticoterapia, ou na presença de sinais de infecção renal (calafrios, dor em flanco, febre alta), deve-se orientar o retorno.
6. Cefaleia
Causas comuns: Dor de cabeça pode ser uma reação aos estressores do cotidiano, migrânea, ou uma agonizante cefaleia em salvas. Em casos mais raros, podem ser um sinal de algo sério como meningite, hemorragia cerebral, ou um tumor cerebral.
Tratamento: Medicações podem aliviar cefaleias tensionais ou migrâneas, que estão frequentemente acompanhadas de náuseas e vômitos. Se houverem sinais que sugiram cefaleia secundária, uma tomografia computadorizada ou outros exames podem ser solicitados.
Recomendações de alta: Pacientes em que se suspeite de migrânea podem ser encaminhados a um neurologista especialista em cefaleias. Em caso de persistência da dor, deve se indicar acompanhamento com neurologista.
7. Cálculos renais
Causas comuns: Cristalização de componentes da urina. Algumas pessoas têm maior predisposição ao desenvolvimento de cálculos renais do que outras, mas viver em clima quente ou consumir uma dieta rica em cálcio podem também contribuir.
Tratamento: Sumário de urina – pode se identificar sangue e/ou sinais de infecção – e tomografia abdominal pode identificar os cálculos renais. Medicamentos para a dor e a náusea são frequentemente prescritos para aliviar os sintomas até que o cálculo seja expelido na urina. Cálculos muito grandes para atravessarem o trato urinário devem ser removidos por um urologista. Se o paciente não responder à medicação, cursar com vômitos persistentes, ou se desenvolver uma infecção, pode haver necessidade de internação.
Recomendações de alta: Deve se entregar um recipiente para coleta do cálculo, para que seja realizada a análise química da composição e determinar o que promoveu a sua formação. Assim, poderá se orientar mudanças dietéticas, que podem envolver uma maior ingesta hídrica. Pacientes com cálculos maiores devem ser encaminhados para um urologista.
8. Abscessos e infecções cutâneas superficiais
Causas comuns: Bloqueio das glândulas sebáceas ou sudoríparas, inflamação dos folículos pilosos, ou punções cutâneas. Germes atravessam a barreira epidérmica, promovendo a ação do sistema imune. Pressão do acúmulo de pus no abscesso, somado com a inflamação do tecido adjacente, causam a dor. Abscessos podem surgir em qualquer lugar, mas os locais mais comuns são na axila, vagina e virilha.
Tratamento: Abertura e drenagem dos fluidos do abscesso gera alívio. Após a drenagem deve se realizar a hemostasia e curativo. Não se utilizam antibióticos, a não ser que haja uma infecção intensa.
Recomendações de alta: O curativo deve ser removido em casa. Realizar a limpeza da área três a quatro vezes por dia para permitir a cicatrização. Evitar o uso de produtos como álcool asséptico ou peróxido de hidrogênio pois esses líquidos podem causar dano ao tecido em regeneração.
9. Infecções de vias aéreas superiores
Causas comuns: Gripe ou resfriado comum, ambos de etiologia viral, ou faringite, que pode ser bacteriana. Odinofagia, tosse, coriza, espirros, congestão nasal e febre baixa são normalmente causados por vírus de resfriado. A gripe, que possui sintomas similares mas pode causar também febre alta, dores intensas e astenia, também é causada por um vírus. Faringite, que normalmente não vem acompanhada com coriza ou tosse, pode ser causada por estreptococo.
Tratamento: Antibióticos podem ser prescritos para os estreptococos, mas são ineficazes contra vírus. Para gripes e resfriados, medicações como antitussígenos, descongestionantes nasais, e analgésicos/antipiréticos podem ser prescritos para aliviar os sintomas. Para idosos ou pacientes imunodeprimidos, pode se solicitar uma radiografia de tórax para descartar pneumonia, que pode ser tratada com antibióticos.
Recomendações de alta: Febre e resfriado geralmente duram apenas uma semana. Observar se há piora dos sintomas – febre alta persistente, aumento do escarro, e dor torácica – pois podem indicar o desenvolvimento de uma pneumonia.
10. Dor abdominal
Causas comuns: Refluxo ácido, ulcera, apendicite, pancreatite, cálculos biliares, intoxicação alimentar, ou obstrução intestinal. O principal motivo pelo qual pessoas com dor abdominal vão para a emergência é náusea e vômitos incoercíveis.
Tratamento: Um exame físico bem feito para especificar a localização da dor, associado a uma anamnese que abranja as características, intensidade e duração podem definir a possível causa. Se necessário, exames de imagem como ultrassonografia e tomografia computadorizada podem ser solicitados para identificar obstruções ou sinais de inflamação. A investigação diagnóstica irá determinar se há necessidade de internação hospitalar, cirurgia, ou apenas tratamento medicamentoso.
Recomendações de alta: Como realizar um diagnóstico preciso pode ser traiçoeiro, os pacientes devem ser orientados a retornar à emergência caso não haja melhora em 24h, e especialmente se a dor piorar.
Conteúdo retirado do blog E-sanar.