Pesquisadores recomendam que endocrinologistas parem de procurar nódulos na tireoide

No último congresso Brasileiro de Endocrinologia, ocorrido em novembro de 2017, o principal assunto foi a tireoide. Essa glândula, localizada no pescoço e que regula o ritmo de funcionamento de todo o organismo, foi o tema central de 12 mesas-redondas, conferências e aulas. O motivo é simples: novos estudos estão mudando drasticamente a maneira como médicos e pacientes devem encarar e remediar os descompassos tireoidianos.

A grande notícia é a reclassificação do EFVPTC. Até pouco tempo ele era considerado maligno e exigia um contra-ataque pesado, com cirurgia e radiação. Entretanto, cientistas da Universidade de Pittsburgh decidiram alterar o caráter desse tumor, porque se observou que, na maioria dos casos, o câncer evoluiu bem, sem proliferação, mesmo quando sem intervenções. Por isso, o que era um câncer passa a ser visto como nódulo benigno, que não requer necessariamente de cirurgia ou iodoterapia.

Mas a reclassificação do EFVPTC é apenas um exemplo de uma série de transformações pelas quais a abordagem dos nódulos tireoidianos está passando. Todas as etapas de diagnóstico e tratamento estão sendo revistas. Nos últimos 25 anos houve um aumento de três vezes no número de episódios, embora a taxa de mortalidade continuasse a mesma.

A principal explicação para o fenômeno está na prescrição indiscriminada do ultrassom de pescoço, que vasculha a glândula à caça de tumores. A tecnologia progrediu tanto que essas máquinas são capazes de apontar massas cada vez menores e indolentes.

“Exames realizados com sujeitos de mais de 50 anos detectam lesões incidentais, sem grande significado para a saúde, em quase 60% das circunstâncias“, calcula o endocrinologista Hans Graf, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E, aos 80 anos, 100% das pessoas apresentam um caroço na região.

Portanto, não se recomenda fazer o ultrassom de rotina, como acontece com a mamografia na prevenção do câncer de mama após os 45 anos. “Esse teste só está indicado como checkup quando há histórico familiar da doença ou suspeitas na palpação do pescoço no consultório”, afirma Graf. Aliás, 7% das malformações são perceptíveis no exame clínico, em que o médico palpa o pescoço do paciente.

Se algum nódulo é encontrado no ultrassom, a próxima fase deve determinar sua natureza por meio de uma biópsia. Aliás, esse procedimento também foi alvo de reformas. A Associação Americana de Tireoide – que admite uma certa epidemia artificial do problema – atualizou suas diretrizes sobre o assunto e aconselha que nódulos com menos de 1 centímetro não sejam avaliados por uma punção. Isso vale até para aqueles que aparentam ser do mal: basta monitorar seu crescimento de tempos em tempos. Essa conduta, por enquanto, ainda não é a realidade nas clínicas e nos hospitais brasileiros.

Nem sempre é melhor retirar do tumor

Estudos já conseguem provar que, mesmo que o tumor seja maligno, há situações em que o melhor é nem intervir. Pesquisadores do Hospital Kuma, no Japão, seguiram 340 pessoas com microcarcinoma papilífero – o câncer de tireoide mais prevalente – durante dez anos, sem recorrer a qualquer ação. Nesse período, 15% tiveram uma ampliação da massa cancerosa superior a 3 milímetros e apenas 3% sofreram metástase.

A lição nipônica é que, na maior parte das vezes, o indivíduo morre com o nódulo, mas não em decorrência dele. Essa é a típica ocasião em que a terapia se torna mais prejudicial do que a enfermidade em si.

 

Fonte: Saúde

 

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