Médicos que atuam na atenção primária necessitam de formação em Saúde Mental
Nas últimas duas décadas, a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Movimento da Reforma Assistencial Psiquiátrica Brasileira têm trazido contribuições importantes no sentido da reformulação da atenção em saúde no País. Ambos defendem os princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS) e propõem uma mudança radical no modelo de assistência à saúde, privilegiando a descentralização e a abordagem comunitária/familiar, em detrimento do modelo tradicional, centralizador e voltado para o hospital.
Essas políticas assistenciais vêm trazendo grandes avanços no processo de municipalização da saúde e vêm contribuindo para a transformação do modelo assistencial vigente em nosso país. O acúmulo das experiências até aqui tem feito acreditar que uma rede diversificada de serviços de saúde mental, articulada com a incorporação de ações de saúde mental na atenção primária, poderá contribuir para acelerar o processo da Reforma da Assistência Psiquiátrica Brasileira, oferecendo melhor cobertura assistencial aos agravos mentais que, historicamente, sempre apresentaram grande dificuldade para entrar no circuito de atenção à saúde no âmbito do SUS.
É bom lembrar que no Brasil, embora tenham sido criados, até junho de 2010, pouco mais de 1.500 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), o número de serviços, bem como de profissionais da saúde mental capacitados para atender toda a população brasileira, ainda se mostra insuficiente. Além disso, a alta prevalência dos episódios de adoecimento psíquico no âmbito da atenção primária sugere que não seria apropriado que apenas serviços especializados fossem os únicos destinados a responder a essa demanda.
Nesse sentido, a capacitação em saúde mental de profissionais da saúde que atuam na atenção primária e, em particular na Estratégia Saúde da Família, se mostra de grande relevância. O próprio Ministério da Saúde admite que a organização de uma política de formação de recursos humanos na área da saúde mental é crucial para a consolidação da Reforma da Assistência Psiquiátrica no Brasil.
A maioria dos profissionais de formação psi encontra-se nos centros urbanos maiores; os programas de capacitação formal são raros e concentrados geograficamente; não há mecanismos de supervisão continuada ou de fixação dos psiquiatras no interior; não há oferta de cuidados para as situações clínicas mais graves e os usuários são, consequentemente, encaminhados para internações nos grandes centros, onde geralmente se concentram os hospitais psiquiátricos.
Retirado de Revista Brasileira de Educação Médica.