Epidemia não é de transtornos mentais, e sim de diagnósticos

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É cada vez maior o número de pacientes diagnosticados com algum transtorno mental. Perceba, por exemplo, como é comum ouvir falar em casos de depressão, bipolaridade e transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). O aumento no número de diagnósticos está sendo referenciado por especialistas como a epidemia de transtornos mentais, e ela vem gerando debate entre a comunidade de Psiquiatria. 

Em entrevista ao Portal UFMG, a professora Maria Aparecida Affonso Moysés, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), falou sobre o assunto. Para ela, existe um fenômeno de medicalização da vida, que consiste em transformar um problema coletivo em um problema pessoal. Segundo ela, o sofrimento e a tristeza –que são sentimentos comuns, normais e gerados pelo modo como a sociedade se organiza – estão sendo transformados em problemas médicos.

Um exemplo simples de visualizar é o TDAH. Atualmente, qualquer criança com dificuldade de aprendizado é diagnosticada com transtorno  de atenção com hiperatividade. Muitas vezes, ela não tem nada, e os seus problemas de aprendizado estão relacionados à política educacional do país e à falta de qualidade de muitas escolas. Um problema coletivo (a educação brasileira) pode ser transformado em um problema pessoal (a criança é diagnosticada com um transtorno mental). A quantidade de diagnósticos mostra que há algo estranho nesse campo, a ponto de se pensar que talvez a normalidade tenha sido descartada. Nos Estados Unidos, registros dão conta de que 46% da população sofrem com algum tipo de transtorno mental. É um número absurdo, que nos mostra que há algo errado.

Maria Aparecida esclarece que, na verdade, o que temos é um uma epidemia de diagnóstico, não de transtorno. Em sua avaliação, isso dificulta ao país pôr em prática uma política efetiva de saúde pública que atenda quem realmente apresenta os sintomas de forma grave. “O número de diagnósticos de transtorno mental é absurdo, e isso impede que muitas pessoas que realmente possuem o problema consigam ser tratadas na saúde pública”, diz.

Quando se tem essa epidemia, os pacientes que possuem problemas reais não são percebidos, pois ficam imersos nesse mar de diagnóstico de transtornos: eles não são identificados e, consequentemente, ficam sem atendimento. Nenhum governo é capaz de tratar um povo que apresente metade da sua população com transtornos mentais.

 Maria Aparecida termina sua entrevista afirmando que o Brasil precisa enfrentar o processo de medicalização com urgência, atuando na formação de profissionais de saúde e educação e na criação de políticas públicas voltadas para esse entendimento.

 

Entrevista retirada do Portal UFMG.

 

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